setembro 13, 2006

ESPELHO SEM DÓ

ESPELHO SEM DÓ

Estás sentada, tens na tua frente o espelho
Olhas o rosto, e reparas em tuas rugas,
e pensas:
Como o tempo passou meu Deus!
E notas que ruga após ruga
há nelas histórias de tua vida,
que estão escritas num livro
onde diariamente deixas
lá momentos vencedores e vencidos,
até, o inicio de vida a dois lá está

Um grande amor te aconteceu
e contigo vive até hoje,
apesar de já ter passado alguns anos
Anos que foram de muitos altos e baixos,
anos que trazem lembranças de bons,
e menos bons registos
Olhas p’ro lado desse espelho
e vês fotos de quando eras muito mais nova
Uma lágrima cai no teu infinito,
e vem com uma leve brisa de tristeza

De repente, te lembras dos filhos, ai sorris...
Sentes saudades das suas meninices,
ou quando em bebés te sugavam os seios,
na sua sofreguidão de viver ,
oferecendo-te um feliz natal à vida
Isso por momentos te conforta,
mas novamente a tristeza surge em teu rosto
Outra ruga que teimosamente se vinca
na tua pele, traz outras recordações
menos positivas, como quando foi a saída
dos filhos do teu lar, porque também eles
encontraram o seu grande amor

Outra lágrima acontece, mas esta não chega
ao teu infinito diário de recordações
Porque apesar de estares menos jovem,
contigo ainda está o amor de tua vida,
que o preservas como um acto de posse
Esse, que ainda te preenche as noites
E te as torna sempre doces, nem
que seja só para te aconchegares a ele
e sentires seu calor, o seu respirar

Ou então, com um sorriso
lembras-te que na morna luz da tarde,
com ele passeias todos os dias p’lo vosso
jardim, onde tantas, e tantas vezes se amaram,
como um poema de Florbela Espanca
Maldito espelho sem dó,
pensas:
Porque me envelheces?
E outra lágrima cai
no teu infinito de lembranças

De: fernando ramos
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