maio 28, 2006

POBRE E VELHO

POBRE E VELHO

Sou pobre e velho,
dizem que sou um pobre diabo
Serei?
Talvez até tenham razão
Sou um pobre velho
porque a vida assim o quer
Sou pobre de farrapos mas forte,
tão forte como o florir do Jacarandá
Tenho o céu como meu abrigo
Tenho as ruas como meu lar
No inverno,
tenho a fogueira e um chão de cartão
que vai parindo calor
para meu aconchego

Sou um pobre coitado
de coração dilacerado
Sou apenas um pobre velho,
que devia ter a raiva, ódio, e angústia
como companheiros por sentir tanta injustiça
pelo abandono dos velhos
tão pobres e miseráveis como eu,
que vão vagueando na calada da vida
por esta cidade de contrastes
Sou pobre sim, este é o meu destino,
mas relâmpagos de memória me dizem
que se calhar bem o mereço
Deus sabe bem o que faz,
estarei a pagar pecados
de outras vidas passadas?

Sou pobre, pobre de dinheiro e do nada,
que me bate à porta da alma todos os dias
Visto trapos, ando descalço, passo fome,
ando ao frio e à chuva
desfolhando pétalas de solidão sobre mim
Sou pobre e velho, bem sei
Mas sei que dentro desta pobreza
tenho alguma riqueza de sentimentos,
tão rica como as flores são de formosura
Sou pobre e velho, bem sei
Mas sou rico de amor,
de amor pelos outros, por aqueles
que ao passarem por mim,
me olham de soslaio e de indiferença

A esses, dou o amor que empregna
o ar de paixão,
tão forte, como forte é o perfume
dos jardins da minha cidade
Jardins que à noite
são o doce lar deste pobre velho

de: Fernando Ramos
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